Os deputados do MpD apoiaram, hoje, a elaboração de uma lei que protege os denunciantes e defenderam que estas pessoas não devem ser alvo de perseguições ou punições. O caso remonta a dezembro do ano passado, quando o Ministério Público acusou um funcionário da Presidência da República de desviar dados sobre o pagamento dos salários.
O
deputado Luís Carlos Silva iniciou o seu discurso citando a frase: “quem
denuncia protege, pelo que quem protege deve também ser protegido”. O deputado
do MpD defendeu que a denúncia é um pilar fundamental para a criação de uma
sociedade que viva os valores da transparência, da justiça e da igualdade de
oportunidades. Para o deputado, este ato representa a salvaguarda dos direitos
dos cidadãos e o respeito pela verdade e pela justiça.
Luís
Carlos Silva revelou que o caso que inspirou o discurso foi o de um funcionário
da Presidência da República, acusado de desviar dados e divulgar informações
sobre o pagamento dos salários da Primeira-Dama. “Quem denuncia está muitas
vezes a colocar em risco a sua própria vida, a sua estabilidade e a expor o bem
comum. Neste processo, ao invés de proteger aquele que lutou pela verdade, o
funcionário será punido por expor uma irregularidade”, constatou.
O
deputado em questão advogou que o país deve ser dotado de um “quadro
regulamentar robusto” para a proteção dos denunciantes e que, enquanto
deputado, trabalhará para elaborar um projeto de Lei nesse sentido. “Esta
inversão de papéis é inaceitável e vai no sentido contrário aos valores
preconizados nos nossos 34 anos como Estado de Direito Democrático”, asseverou.
Para
finalizar, o deputado sublinhou que o denunciante não pode ser alvo de
perseguição ou intimidação. Luís Carlos Silva defende que deve ser prestado
acolhimento àqueles que “protegeram Cabo Verde”.
A
deputada Janira Hoppfer Almada refutou as declarações do deputado e frisou que
as ações do Presidente da República (PR) demonstram transparência. “O
Presidente da República, que decide, por iniciativa própria, pedir e solicitar
que o orçamento esteja inscrito no SIGOV, está a querer colaborar com a
verdade”, argumentou.
A
deputada do PAICV ressaltou que o PR já tinha alertado para essa situação na
proposta da Orgânica da Presidência da República, mas não recebeu a devida
atenção do Governo. “Perguntamos por que razão, até este momento, o Governo não
atuou para permitir ao Tribunal de Contas atuar nos termos da Lei”, questionou
a deputada. A deputada do PAICV também interrogou o governante sobre o tempo em
que irá renovar o mandato dos juízes para fiscalizar o processo.
Numa
intervenção, Filipe Santos ressaltou que o partido apoia a iniciativa do
deputado Luís Carlos Silva e destacou que “o tema é importante e decisivo, pois
permitirá a transparência na gestão pública”. O deputado do MpD realçou que os
denunciantes não podem sofrer retaliações e devem ser valorizados por
contribuir para a construção de um futuro mais justo e inclusivo. “Acredito
que, quando esta iniciativa chegar a esta casa, todos estaremos unidos para
aprovar e proteger os nossos cidadãos que, com coragem, decidem fazer a
diferença”, sustentou.
Em
outra intervenção do PAICV, Démis Almeida considerou que o MpD está a atacar o
Ministério Público, sendo que a instituição comprovou indícios da prática de
crime. “É preciso respeitar a separação dos poderes. O Ministério Público já
tinha dito que, relativamente ao dossiê, não havia indícios de crime por parte
da Presidência […]. Não podemos permitir que um deputado da nação venha ao
Parlamento colocar em causa o princípio da separação dos poderes”, reiterou o
deputado Démis Almeida.
De
salientar que a Sessão Ordinária terminou, hoje, dia 24 de janeiro.