A deputada Adelaide Brito, do Grupo Parlamentar do PAICV, manifestou, hoje, na Assembleia Nacional, a sua preocupação com a situação dos transportes marítimos na ilha do Maio, sublinhando que, não obstante a deslocação recente do navio Kriola àquela ilha, persistem constrangimentos graves no acesso ao porto, nomeadamente o assoreamento da rampa.
A parlamentar descreveu
um cenário de extrema preocupação, apelando ao Governo e à empresa ‘Cabo Verde
Inter-Ilhas’ para a implementação de uma solução estrutural e definitiva: “A
ilha esteve mais parada no tempo do que aquilo que foi cantado. Nas lojas,
faltaram produtos da primeira necessidade. Restaurantes com portas fechadas.
Operadores turísticos sufocados por não terem clientes, com os emigrantes e os
turistas a anteciparem a sua saída do Maio. Passageiros, incluindo crianças, a
atravessarem o canal em botes de pesca e até o Maio passou a ser vista pelos
turistas como a ilha a não ser visitada por não ter garantia de um dia certo e
correr o risco de perder o voo de regresso.”
Adelaide Brito
qualificou a situação como um verdadeiro “período de afronta”, em que a
normalização da ilegalidade surge como consequência de uma necessidade premente
que suplanta a legalidade e a segurança. Citou o caso de um pescador que, ao
prestar auxílio no transporte de passageiros para Santiago, viu os seus
documentos apreendidos, ficando impedido de exercer a sua atividade económica. “O
indivíduo decidiu colaborar naquilo que é a responsabilidade do Governo em
termos de transportes e que não tem sido acudido da melhor forma”,
lamentou.
Segundo a deputada, a
questão dos transportes marítimos afeta não só os residentes da ilha, como
também a todo o país e até a diáspora. Lançou, por isso, questões relacionadas
com a responsabilização dos prejuízos: “Quem será responsabilizado pelos
prejuízos dos operadores turísticos resultado do cancelamento das reservas?
Quem se responsabiliza pelas passagens internacionais que os emigrantes
perderam e que tiveram que fazer novas compras? E a situação do proprietário do
bote que quis minimizar a situação e acabou prejudicado?”
No encerramento da sua
intervenção, reforçou o carácter estruturante do problema: “A situação dos
transportes traz feridas profundas e, por isso, é necessário resolver o
problema.”
Em resposta, o Deputado
Abraão Vicente, do MpD, justificou a ausência da deputada Antonita Vieira, por
se encontrar em missão oficial em representação do Parlamento. O parlamentar
advertiu contra a politização excessiva do fenómeno do assoreamento,
sublinhando que “natureza é natureza” e que não se deve trazer para o
Parlamento “de forma emocional” assuntos cuja origem é natural e que,
por conseguinte, não estão sob total controlo humano.
“O Governo tem
estado em cima do acontecimento para resolver o problema. Agora, à questão do
barco: a senhora deputada não pode estar aqui no Parlamento a promover a
insegurança”, sublinhou,
assegurando, ainda, que “a boa vontade pode sair cara para o proprietário
que tentou transportar as pessoas em barcos de pesca e para as pessoas que
estava a tentar ajudar.”
Segundo Abraão Vicente,
os técnicos do IMP (Instituto Marítimo e Portuário) atuam sempre em nome da
segurança e do Código Marítimo, não podendo ser acusados de agir
arbitrariamente. Referindo-se ao Porto do Maio, propôs uma audiência mais
abrangente com a Enapor — entidade responsável pela infraestrutura — e com os
técnicos que projetaram e executaram a obra, para um esclarecimento público
sobre a sua conceção e operação. “É um porto de qualidade, que serve a ilha.
Espera-se que a Enapor consiga concretizar um projeto maior, que permita ter um
barco de dragagem permanente nesta região para poder dar qualidade a esse
porto.”
Rejeitando os discursos
que considerou emotivos, concluiu: “Senhores deputados, não sejamos profetas
da desgraça. Não promovamos a desgraça de Cabo Verde. Não promovamos o mau
olhado sobre Cabo Verde.”
Na réplica, a deputada
Adelaide Brito voltou a insistir na responsabilidade governativa pelo estado do
porto da ilha do Maio. “Se o Governo tivesse respeitado o estudo feito, que
dizia que não era possível continuar a trabalhar naquele cais, hoje não havia a
questão de assoreamento. Está-se a gastar muito dinheiro e a rampa está sempre
a assorear. Esta responsabilidade é do Governo”, enfatizou.
Adelaide Brito salientou,
ainda, que não está a defender práticas ilegais, mas que compreende os atos de
desespero dos cidadãos. “Não dissemos que compactuamos com os atos de
ilegalidade. Porém, tal ato aconteceu porque o governo do MpD não assumiu a sua
responsabilidade de manter as ilhas de Maio e Santiago com ligação diária. São
meses de desespero e, no ato de desespero, as pessoas pediram que sejam
acudidas para não perderem o voo internacional”, explica Adelaide Brito.
A questão sobre os transportes de ligação entre Maio e Santiago subiu ao Plenário da Assembleia Nacional no terceiro dia de I Sessão Ordinária de Julho. Prevê-se a conclusão dos trabalhos no âmbito deste plenário para esta sexta-feira, 11 de julho.