Os sujeitos parlamentares analisaram, hoje, a proposta de Lei que aprova o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). No debate, em sede de generalidade, os deputados abordaram temas como o casamento precoce, a mutilação genital, a burocracia da adoção e a responsabilidade parental.
Na
apresentação do diploma, o Ministro da Família, Fernando Elísio Freire,
esclareceu que o ECA de 2013 é um instrumento moderno, adequado às necessidades
da população. Contudo, enfatizou que “a sua aplicação prática revelou a
necessidade de fazer alguns ajustamentos”. O governante destacou que o Governo
teve o cuidado de ouvir e acolher as ideias apresentadas pelos aplicadores da
Lei, pelos poderes públicos e pelas instituições que trabalham com a faixa
etária abrangida.
Segundo
as informações partilhadas pelo Ministro, a proposta de Lei densifica os
direitos fundamentais, cria o Conselho de Proteção das Crianças e dos
Adolescentes, afirma os deveres dos menores, elimina as sanções para casos de
atraso nos registos e estabelece a gratuitidade para a obtenção do registo de
nascimento. “Cabo Verde tem de estar alinhado com as práticas internacionais.
Estas alterações são possíveis porque o ECA foi aprovado em 2013 e cumpriu o
seu papel na sociedade”, evidenciou o Ministro da Família.
A
deputada Janira Hopffer Almada congratulou o reconhecimento do Governo em
relação ao ECA, descrevendo o diploma como inovador em África e amplamente
elogiado por diversos países. “O objetivo essencial naquela altura era
esquematizar todas as normas dispersas num único documento, facilitando a sua
aplicabilidade e interpretação”, explicou. A deputada sublinhou que a Lei deve
acompanhar os tempos e acredita que as melhorias do ECA irão beneficiar a sua
aplicação.
Na
sua intervenção, Janira Hopffer Almada classificou a adoção como um processo
“impossível”, defendendo que o país deve identificar as dificuldades e resolver
este problema. A deputada do PAICV também mencionou que o diploma não reforça o
papel dos municípios na defesa das crianças e adolescentes, centralizando os
comités municipais na luta por estes direitos. “Eu penso que o caminho deve ser
o da descentralização, para que os comités nos municípios possam atuar in loco,
pois têm maior domínio das questões locais”, acentuou.
Janira
Hopffer Almada completou o seu discurso pedindo o estabelecimento de prazos
para os casos que envolvem crianças nos Tribunais e no Ministério Público,
citando que há processos relacionados com o exercício do poder paternal que se
arrastam por quatro anos, violando o Código Civil. A deputada defendeu que as
normas devem ser eficazes e que o Governo deve reforçar os tribunais de família
ou estabelecer prioridades. “Se não há meios suficientes, os meios devem ser
providenciados. Caso contrário, implica estabelecer prioridades”,
declarou.
A
deputada Lúcia dos Passos enalteceu a proposta de alteração do ECA,
considerando-a um esforço do Governo para consolidar as matérias relacionadas
com as crianças e os adolescentes. “O desenvolvimento harmonioso da criança e
do adolescente deve ser a prioridade de qualquer nação, e Cabo Verde tem
assumido este compromisso, ratificando um conjunto de instrumentos
internacionais”, argumentou.
Lúcia
dos Passos destacou a introdução de novos capítulos para reforçar o papel do
Estado e da sociedade civil, o endurecimento das penas no Código Penal e o
fortalecimento das responsabilidades dos progenitores. “Por exemplo, a entidade
empregadora pode ser responsabilizada e realizar descontos para assegurar a
pensão alimentícia das crianças, caso os pais não cumpram com a sua obrigação”,
avançou. A deputada acrescentou que o MpD proporá uma solução para os casos em
que a criança vive com os avós e é privada da pensão alimentícia. “A criança
não pode ter os seus direitos violados, mesmo pelo próprio pai.
Congratulamo-nos com a introdução do capítulo da cidadania, porque é
fundamental mostrar às crianças que elas também têm deveres”, apontou.
A
deputada chamou ainda a atenção dos governantes para a questão da mutilação
genital. Segundo ela, o fenómeno pode ocorrer no país, e explicou: “Constatamos
que mulheres cabo-verdianas que casam com pessoas de culturas que praticam a
mutilação genital têm levado os seus filhos para esses países, sob o pretexto
de férias, para submeterem-nos a essa prática”. A deputada apelou ao Ministro
para que a questão seja debatida durante a análise da proposta em sede de
especialidade.
Sobre
o ECA, Zilda Oliveira sublinhou que os deputados da UCID sempre defenderam a
necessidade de revisão do diploma. “Entendemos que a infância e a adolescência
são períodos cruciais do desenvolvimento humano, onde se forma a
personalidade”, reiterou, sustentando que as consequências da falta de proteção
se estendem por toda a vida.
Zilda
Oliveira, no entanto, expressou reservas quanto aos critérios adotados para a
adoção, ao registo do trabalhador adolescente e ao registo das crianças após o
nascimento. “Trazemos esta questão do registo de filhos fora do casamento, pois
há casos em que o processo se prolonga por dois ou três anos, causando
constrangimentos às crianças, cujos registos mencionam apenas o nome da mãe”,
asseverou. A deputada lamentou que o registo de crianças fora do casamento seja
mais facilitado para homens do que para mulheres.
Vale
ressaltar que a proposta que aprova o Estatuto da Criança e do Adolescente será
votada no dia 24 de janeiro.