Démis Almeida classifica 20 de janeiro de 1973 como um dia “fatídico”, quando Amílcar Cabral foi “brutalmente” assassinado. Contudo, afirmou que, apesar do seu falecimento, “o seu pensamento, os seus ideais e as suas causas, o exemplo de vida e de liderança, o seu pan-africanismo, a sua fé inabalável na unidade e na luta pelo progresso dos povos africanos e da humanidade mantiveram-se vivos e resplandecentes, alumiando o caminho que viria a desembocar na autodeterminação não só dos povos cabo-verdianos e guineenses, mas também de vários outros povos africanos colonizados e explorados”, ressaltou o deputado na declaração política proferida em nome do PAICV.
De
acordo com Démis Almeida, todos devem ter um enorme orgulho do ilustre irmão
Amílcar Cabral, que em vida foi muito mais do que o fundador, militante e
dirigente do PAIGC. Dentre os contributos de Cabral, Démis Almeida destacou os
movimentos de libertação de diversos povos africanos das amarras do
colonialismo, do fascismo, do racismo, da xenofobia, do analfabetismo, da
negação de identidade e da proibição de manifestações culturais e práticas de
usos e costumes milenares. Amílcar Cabral contribuiu, ainda, para que esses
povos fossem libertos da miséria, da humilhação, da castração das liberdades e
da igualdade, das mais brutais violências que não poupavam crianças inocentes,
mulheres e idosos, bem como da negação do “irrestringível” direito ao futuro e ao
progresso.
Por
isso, Démis Almeida reconhece que não é por acaso que Amílcar Cabral foi
considerado o segundo maior líder mundial de todos os tempos numa lista
elaborada por prestigiados historiadores e publicada na revista BBC World
Histories Magazine.
Nas
palavras de Celso Ribeiro, Líder Parlamentar do MpD, Amílcar Cabral é uma
figura que une todos os cabo-verdianos. Por isso, o MpD valorizou a sua figura,
atribuindo o seu nome à nacionalidade e construindo todas as lembranças que se
têm em Cabo Verde, como estátuas, memórias e outros símbolos. Para Celso
Ribeiro, Amílcar Cabral é uma figura “incontornável”.
Emanuel
Barbosa, também deputado do MpD, acredita que a nação cabo-verdiana deve
debater Cabral de uma forma “descomplexada e com verdades”, estabelecendo uma
linha “coerente” de debate. Segundo o deputado, afirma-se que, no seu tempo,
Cabral defendia os valores e princípios da democracia e da liberdade. Por isso,
ele questionou ao PAICV – “partido que se arroga como sendo de Cabral” – os
motivos para ter adotado políticas contrárias ao que ele defendia,
implementando em Cabo Verde um “regime de partido único, autocrático e
ditatorial”. Por último, salientou que é necessário debater se a escolha da
data de 20 de janeiro como “Dia da Nacionalidade e dos Heróis Nacionais” foi
acertada.
Por
sua vez, Orlando Dias, deputado do MpD, ressaltou que as datas nacionais devem
servir para unir a nação cabo-verdiana. Ele destacou ainda que Amílcar Cabral
pertence a todos, enfatizando que não existe um povo de 13 de janeiro, de 5 de
julho ou de 20 de janeiro, mas sim um único povo cabo-verdiano que abraça todas
essas datas.
Orlando
Dias enfatizou que o único partido fundado por Amílcar Cabral foi o PAIGC e que
“não devemos permitir que o nome de Cabral seja usado como instrumento de
propaganda política ou partidária”. Para ele, a data escolhida está associada a
“traição, intriga e sangue” e questionou por que não foi optado pelo dia 12 de
setembro – data de nascimento desse herói –, que seria “mais assertiva e
feliz”, representando algo positivo, ao invés da morte.
Do
mesmo modo, Rui Semedo salientou que é “preciso garantir que Amílcar Cabral
ultrapasse os partidos e seja uma figura nacional”. Contudo, afirmou que não
foi permitido comemorar o seu centenário “condignamente”, como uma figura de
todos e não apenas do PAICV. Rui Semedo explicou que 12 de setembro era o “Dia
da Nacionalidade”, mas “o MpD eliminou-o” como feriado quando assumiu o poder
em 1991, transferindo a data para 20 de janeiro, que passou a ser o “Dia da
Nacionalidade e dos Heróis Nacionais”.
Na
intervenção da UCID, João Santos Luís afirmou que a figura de Amílcar Cabral é
“indiscutível e incontestável” no contexto nacional. Contudo, destacou que os
seus ideais “sempre foram distorcidos” no país, já que ele defendia a igualdade
e a justiça social. Para João Santos Luís, esses princípios têm sido
“desvirtuados” desde a década de 1990 até os dias atuais, razão pela qual pediu
que esses ideais sejam realmente aplicados, para que o povo cabo-verdiano
possa, de facto, usufruir deles.