O Primeiro-Ministro cabo-verdiano defendeu hoje que a transformação digital dos serviços do Estado pode contribuir para a celeridade na prestação de contas, o respeito pela lei, a melhoria dos serviços públicos e a proteção da democracia. No debate sobre a “Proteção e Aprimoramento da Democracia e da Boa Governança”, Ulisses Correia e Silva propôs a criação de um debate parlamentar anual sobre o Estado da Democracia Cabo-verdiana, com o objetivo de analisar questões relacionadas com a liberdade e propor ideias para o fortalecimento democrático.
O
Primeiro-Ministro iniciou destacando que o cenário internacional atual está
marcado por crises e desafios nos âmbitos económico e climático, salientando
que Cabo Verde tem permanecido fiel aos seus objetivos. Entre esses objetivos
estão a valorização da democracia, o combate à pobreza, a proteção das
instituições democráticas e a salvaguarda do Estado de Direito Democrático.
“Cabo
Verde tem trilhado, desde 1991, um percurso exemplar que confere ao país
credibilidade e reconhecimento como Estado de Direito Democrático”, afirmou,
acrescentando que estes resultados não devem gerar complacência ou
autossatisfação. Para Ulisses Correia e Silva, o desenvolvimento do país está
intrinsecamente ligado à democracia e à boa governança.
Além
de abordar os desafios globais, o Primeiro-Ministro expressou preocupação com o
impacto da inteligência artificial, da expansão da pós-verdade e do uso
descontrolado das redes sociais. Ulisses Correia e Silva alertou que, “na
ausência de qualquer mecanismo de regulação e de responsabilização, em nome da
liberdade de expressão, as redes sociais têm sido usadas para violar normas
constitucionais” e tornam a democracia uma “presa fácil” do populismo.
Embora
reconheça que Cabo Verde não está imune a estas ameaças contemporâneas, o
Primeiro-Ministro afirmou que esta não é a realidade predominante no país.
Apelou, assim, aos parlamentares para que trabalhem no sentido de aumentar a
confiança dos cabo-verdianos na democracia, reiterando a proposta do debate
anual sobre o Estado da Democracia Cabo-verdiana. Segundo o governante, este
debate deveria basear-se em indicadores de desenvolvimento, incluir
representantes da sociedade civil e focar-se na criação de políticas públicas
orientadas para o fortalecimento democrático.
Ulisses
Correia e Silva sublinhou que a Constituição da República de Cabo Verde
estabelece limites à liberdade de expressão, especialmente quando esta atinge a
honra ou faz apologia à violência. Enfatizou ainda a necessidade de combater a
desinformação, as ʽfake newsʼ e as ideologias da pós-verdade, ao mesmo tempo
promovendo valores como a tolerância e reforçando a literacia mediática e
digital entre os jovens.
O
Primeiro-Ministro também destacou que a justiça é um dos pilares fundamentais
para a boa governança, desempenhando um papel essencial na consolidação das
reformas. Felicitou, neste contexto, a criação do Portal da Justiça e do Portal
de Transparência, ferramentas que contribuem para uma gestão pública mais
eficaz. “Todos temos a responsabilidade de melhorar o nosso sistema eleitoral.
Saudamos o facto de os deputados terem iniciado o processo de revisão eleitoral
[…] Estamos perante um momento decisivo para preservar e aperfeiçoar o
património comum que construímos no país – a nossa Democracia”, declarou.
Ulisses
Correia e Silva apelou ainda ao apoio dos sujeitos parlamentares para garantir
o funcionamento pleno dos órgãos externos ao parlamento e para a construção de
consensos.
Sublinhou
que o Governo está disponível para discutir mecanismos que visem aumentar o
financiamento público dos partidos e limitar as despesas com campanhas
eleitorais.
No
ano em que se comemoram os 50 anos da independência de Cabo Verde, o
Primeiro-Ministro reiterou que o país deve continuar a ser uma referência em
estabilidade, progresso e respeito pelos valores democráticos.