O
segundo dia da II Sessão Ordinária do mês de Junho ficou marcado por um debate
parlamentar centrado nas Questões de Política Interna e Externa. Entre os
diversos temas abordados, destacou-se a análise da situação atual do sector
privado em Cabo Verde. Os deputados discutiram os desafios enfrentados pelas
empresas nacionais, o ambiente de negócios, o acesso ao financiamento, bem como
as políticas públicas necessárias para impulsionar o investimento privado.
De
acordo com o deputado do MpD, Celso Ribeiro, “a maior força do desenvolvimento
do país é o sector privado, que cresceu e está a dar resultados com o Governo
do MpD”. O deputado sublinhou que, atualmente, o sector privado constitui o
maior empregador do país, absorvendo 49% da mão-de-obra nacional,
“contrariamente ao sector público, que era um fardo”.
Durante
a sua intervenção, destacou que o Governo tem promovido políticas ativas que se
refletem na redução da carga fiscal, em incentivos à empregabilidade jovem e no
aumento da oferta de formação profissional, registando-se uma taxa de inserção
no mercado de trabalho na ordem dos 36%.
Para
a deputada Isa Miranda, foi o MpD quem abriu Cabo Verde ao sector privado, nos
meados da década de 1990. Segundo a parlamentar, foi este partido que concebeu,
negociou e implementou a Constituição da República de Cabo Verde de 1992,
introduzindo “apostas que transformaram Cabo Verde num país economicamente
estável, de referência e elevando-o ao patamar das nações pequenas”. Por fim,
concluiu ser necessário reconhecer o papel preponderante do sector privado.
Contudo,
na óptica do deputado Julião Varela, foi o Governo do PAICV que conferiu ao
sector privado a atenção devida, promovendo o seu desenvolvimento através de
“avultados” investimentos realizados entre 2010 e 2015. Com tais investimentos,
foi possível consolidar sectores fundamentais, como o turismo, que, nos dias de
hoje, gera importantes receitas para o desenvolvimento nacional, explicou.
De
acordo com o deputado do PAICV, os montantes canalizados para o sector do
turismo permitiram atrair investimento direto estrangeiro, transformando-o numa
área dinâmica, com capacidade para gerar emprego e impulsionar o crescimento
económico. Além disso, Julião Varela sublinhou que, graças aos investimentos
realizados pelo PAICV no domínio da construção civil, emergiram grandes
empresas, como a Pirâmide e a Cooperativa da Construção Civil, entre outras.
Lamentou, porém, o facto de “não haver nenhuma grande empresa no domínio da
construção civil, porque foram destruídas pelas políticas públicas do atual
Governo”.
Em
resposta, o deputado do MpD, Luís Carlos Silva, afirmou que, na verdade, “foi o
Programa Casa para Todos, do PAICV, que conduziu à falência uma parte
significativa das grandes empresas do sector da construção civil no país”.
Acrescentou que “não valorizaram nem investiram no sector privado, que é o
principal motor do processo económico”.
Ao
intervir no debate, o deputado Mário Teixeira salientou que o mais importante é
escutar e identificar os obstáculos que entravam o crescimento do sector
privado, analisando criteriosamente os números apresentados pelas estatísticas.
Segundo o deputado do PAICV, embora a criação de empresas tenha aumentado 63%,
o número de trabalhadores ao serviço registou apenas uma subida de 25% e o
volume de negócios cresceu 14%, o que revela que o crescimento empresarial não
foi acompanhado por um aumento proporcional dos demais indicadores.
Mário
Teixeira frisou que a faturação média, que era de cerca de 30 mil contos em
2019, desceu para 21 mil contos em 2023, representando uma redução de 30%.
Concluiu que uma análise atenta dos dados reflete que o aumento do número de
empresas não decorreu de uma verdadeira dinâmica económica, mas sim de
processos administrativos associados ao sistema e-fatura. Explicou que,
atualmente, qualquer indivíduo prestador de serviços ou freelancer, para emitir
uma fatura, é obrigado a efetuar o registo no e-fatura, mediante o pagamento de
4 mil escudos.