II SESSÃO ORDINÁRIA DE JUNHO
O Presidente da União Cabo-verdiana Independente e Democrática (UCID),
João Santos Luís, denunciou, no dia de hoje, que o Governo tem vindo a
abandonar as ilhas do Fogo, da Brava e do Maio, conduzindo um modelo de
governação que, no seu entender, aprofunda as desigualdades estruturais
existentes. As declarações foram proferidas no âmbito do debate com o
Primeiro-Ministro sobre o tema “O Presente e o Futuro da Economia
Cabo-verdiana: estratégias de crescimento sustentável e inovação”.
Na sua intervenção, o deputado da UCID reconheceu que o Executivo tem
abordado temáticas fundamentais como o turismo sustentável, a economia azul, as
energias renováveis e a transformação digital. Contudo, advertiu que “existe
uma distância enorme entre o que é anunciado nos gabinetes e o que se vive nas
comunidades. É fácil traçar metas e ambições, o difícil é cumpri-las”. João
Santos Luís alertou que o país continua a ser “refém” do combustível importado,
questionando o Governo sobre o paradeiro dos investimentos necessários para
garantir 50% de penetração de energias renováveis em Cabo Verde até 2030.
Sublinhou, ainda, que o acesso à internet nas escolas permanece
limitado em zonas remotas, onde a juventude continua privada de oportunidades
reais para criar, inovar e empreender. Acrescentou que a digitalização não se
esgota na aquisição de equipamentos informáticos, devendo antes traduzir-se
numa maior proximidade do Governo junto das populações. Neste contexto,
inquiriu também o ministro responsável sobre os programas governamentais
destinados ao apoio das comunidades piscatórias e dos pescadores artesanais.
Para concluir, João Santos Luís reiterou que várias ilhas estão a ser
“esquecidas” pelo Executivo, com destaque para o Fogo, a Brava e o Maio. Em
nome da UCID, declarou oposição frontal ao que considerou ser um “modelo de
crescimento que exclui os mais frágeis e aprofunda as desigualdades sociais”.
Encorajou o Governo a apostar num planeamento realista, com investimentos
estruturantes na educação, na economia azul, no turismo e noutras áreas com
potencial para alavancar o desenvolvimento comunitário.
Em resposta, o deputado Filipe Santos, do MpD, afirmou que o
crescimento económico tem, efetivamente, chegado às famílias e às diversas
ilhas, através do reforço do acesso à água, à rede de esgotos e à eletricidade.
O parlamentar revelou que foram reabilitadas três mil habitações e construídas
mais de setecentas novas casas destinadas a famílias em situação de
vulnerabilidade social. “Esta política tem impacto direto nas famílias. O
Governo construiu 236 casas em Ribeira Julião, 88 em Portelinha, 50 em Rabil,
83 em Palmarejo Grande, 46 no Fogo, bem como outras habitações em bairros
históricos”, detalhou.
Apresentando uma leitura mais crítica, o deputado Manuel Brito destacou
que cerca de 20% da população cabo-verdiana vive em situação de pobreza.
Sublinhou ainda que “27 mil famílias nas zonas rurais não possuem instalações
sanitárias, um a dois cabo-verdianos não tem casa de banho, e há um défice
habitacional de 40 mil casas a necessitar de reabilitação, além de outras 14
mil que precisam de ser construídas de raiz”.
Os trabalhos parlamentares serão retomados amanhã, dia 26 do corrente
mês, com um novo debate centrado em questões de política interna e externa, a
pedido da UCID.