I SESSÃO ORDINÁRIA DE MAIO
Tendo
em conta a celebração do Dia Internacional dos Trabalhadores, assinalado no
passado dia 1 de maio, o deputado João Santos Luís usou da palavra para
analisar a situação laboral em Cabo Verde. A União Cabo-verdiana Independente e
Democrática (UCID) alertou para a acentuada precariedade laboral nos setores da
saúde, da segurança privada, das pescas e da agricultura.
No
seu discurso, a UCID reconheceu que os progressos alcançados têm sido modestos,
muito aquém do desejável e claramente insuficientes face ao panorama laboral
vigente. “A situação laboral cabo-verdiana continua a inspirar cuidados, com
responsáveis sindicais e os próprios trabalhadores a darem frequentemente o
grito de alerta, mas, mesmo assim, não estão a ser ouvidos e são
sistematicamente ignorados com êxito pelos patrões, Câmaras Municipais e
Governo”, asseverou.
João
Santos Luís classificou de ‘escravatura moderna’ o vínculo laboral dos
colaboradores do Ministério da Agricultura que auferem apenas 249 escudos.
Segundo o deputado, o Governo tem-se recusado a dialogar com os trabalhadores
do Ministério da Agricultura e do INIDA, o que tem repercussões negativas na
autoestima e motivação dos profissionais deste sector. “Nas ilhas do Sal e da
Boa Vista, os profissionais dos setores da hotelaria, turismo e restauração
lançaram um grito de alerta, continuam a ser ignorados e ainda clamam por boa
vontade”, sublinhou.
O
deputado defendeu que o Executivo deve procurar estabelecer um equilíbrio na
estrutura salarial nacional, com vista a mitigar os efeitos da perda de poder
de compra. Referiu, nomeadamente, a situação crítica dos agentes da segurança
privada, considerando-a ‘gritante’. Para a UCID, estas empresas constituem um
ativo relevante e um elemento-chave na arquitetura da segurança, pelo que
apelou à intervenção governamental no sentido de tornar efetiva a aplicação do
Preço Indicativo de Referência.
“O
Governo, aquando da aprovação de alguns Planos de Cargos, Funções e
Remunerações (PCFR) para classes profissionais do regime geral, olvidou os
profissionais integrados nos quadros especiais de várias instituições, os quais
ficaram entregues à sua sorte”, lamentou João Luís, que manifestou preocupação
com os profissionais da saúde, os agentes sanitários de Santo Antão e de
Santiago Norte, bem como os bombeiros municipais da zona Norte e que enfrentam
sobrecarga de trabalho, carência de recursos humanos e ausência de cobertura de
proteção social.
O
presidente da UCID criticou as autoridades pela não concretização das promessas
feitas aos trabalhadores marítimos no que toca à grelha salarial, proteção
social e redução da idade legal de reforma. Mais uma vez, o partido instou o
Executivo a resolver os problemas relacionados com a EMPA e com a empresa
Justino Lopes.
No fecho da sua intervenção, João Santos Luís exortou o Governo a traçar linhas orientadoras que impulsionem o crescimento económico, reforcem o sector privado e fomentem a criação de riqueza. Afirmou, ainda, que a precariedade laboral em Cabo Verde tem solução e reiterou a abertura da UCID para um diálogo construtivo com o Governo, com vista à definição de prioridades que sirvam o interesse nacional e da maioria da população.
O
deputado do PAICV defendeu que os trabalhadores devem possuir vínculos laborais
formais com as respetivas entidades patronais, usufruindo de direitos
essenciais, como a previdência social e a assistência médica. “Não se pode
aceitar que existam milhares de trabalhadores sem o seguro obrigatório contra
acidentes de trabalho. Não se pode aceitar que haja milhares de trabalhadores,
sobretudo trabalhadoras, sujeitas a assédio moral no seu local de trabalho”,
advertiu Démis Almeida, para quem não se pode tomar como “aceitável que haja
investidores que façam da precariedade laboral uma oportunidade para maximizar
os seus lucros. O nosso país deve estar totalmente aberto ao investimento, mas
esse investimento deve estar em conformidade com o respeito integral pelas
nossas leis”. Démis Almeida aconselhou, deste modo, o Governo a realizar uma
inspeção rigorosa ao ambiente laboral, reforçando os serviços de inspeção com
recursos humanos e instrumentos legais. Concluiu, apelando para que o trabalho
digno seja assumido como um pacto de honra entre todos os partidos políticos.
Por
sua vez, a deputada do MpD salientou que o Governo regularizou a situação de
mais de sete mil trabalhadores com vínculos precários no sector público, pondo
termo ao ‘stress’ físico e mental a que estavam sujeitos em ciclos semestrais
de incerteza. “O Governo do MpD é o primeiro, em 46 anos de história de Cabo
Verde, a ousar aprovar uma legislação com vista à regularização da
precariedade. Assim, foi aprovado o Decreto-Lei n.º 33/2021, que institui o
primeiro programa de regularização”, esclareceu Edna Oliveira, acrescentando
que “o Governo do MpD aprovou e regularizou 35 carreiras. Entre estas, algumas
foram mesmo criadas, como a dos inspetores de pesca” e sublinhando que o
partido aprovou o Plano de Cargos, Carreiras e Salários (PCCS) dos colaboradores
da CNAD, ONAD-CV e do IEFP. A deputada Edna Oliveira assegurou, entretanto, que
a situação de precariedade laboral dos trabalhadores será, de forma gradual,
resolvida pelo Governo do MpD.