II SESSÃO ORDINÁRIA DE ABRIL
No
decurso do Período de Questões Gerais da II Sessão Ordinária de Abril, os
deputados Gisele Lopes e Fernando Lopes manifestaram a sua profunda preocupação
com os níveis de participação política da comunidade emigrada, defendendo, de
forma enfática, a introdução do recenseamento automático como mecanismo
imprescindível para o reforço do exercício de cidadania e para a plena
integração política da diáspora cabo-verdiana.
O
deputado Fernando Lopes iniciou a sua intervenção sublinhando o papel nuclear
que a diáspora desempenha no desenvolvimento nacional, alertando, contudo, para
a persistente insuficiência do seu envolvimento nos processos eleitorais. “Os
dados são claros e, infelizmente, inquietantes”, afirmou. Acrescentou, ainda,
que, “apesar de existirem mais de doze mil eleitores inscritos fora do
território nacional, a taxa de participação nas eleições legislativas e
presidenciais mantém-se estagnada entre os 40% e os 45%, com uma tendência de
decréscimo que ronda os dois mil eleitores.” Esta realidade, sustentou, revela
uma assimetria preocupante entre a dimensão da diáspora e a sua real inscrição
nos cadernos eleitorais, comprometendo os ideais de uma democracia inclusiva e
representativa.
Fernando
Lopes defendeu que tal fenómeno não pode ser interpretado meramente como uma
questão de logística ou estatística. Pelo contrário, requer uma abordagem
holística e multidisciplinar, envolvendo uma análise crítica dos seus
fundamentos sociológicos, institucionais e políticos. A morosidade, a
burocracia e a desadequação do processo de recenseamento à realidade concreta
das comunidades emigradas foram apontadas como entraves estruturais à
participação. “Há estudos que apontam para a possibilidade de um cidadão levar
mais de quatro horas a completar o processo de recenseamento eleitoral”,
exemplificou, denunciando igualmente a obsolescência dos equipamentos
utilizados e a insuficiência dos pontos de atendimento nos diversos países de
acolhimento.
Neste
quadro, o deputado do MpD advogou a implementação do recenseamento automático
como resposta concreta às limitações identificadas. Segundo afirmou, esta
medida representaria um salto qualitativo na forma como o Estado reconhece e se
relaciona com os seus cidadãos na diáspora, promovendo a inclusão efetiva e a
justiça participativa. “A ausência de ação nesta matéria enfraquece os laços
entre a comunidade emigrada e o País, e atenua o impacto que esta poderia ter
no desenvolvimento nacional”, asseverou.
A
deputada Gisele Lopes, eleita pelo círculo da diáspora, subscreveu inteiramente
o apelo do seu colega, reiterando que as dificuldades enfrentadas pelas
comunidades emigradas no processo de recenseamento configuram, na prática, uma
forma de discriminação estrutural. “É uma realidade distinta daquela vivida em
Cabo Verde, onde o recenseamento está disponível durante todo o ano. Na
diáspora, muitas vezes, essa possibilidade restringe-se a um único momento
anual”, observou.
Gisele
Lopes vinculou ainda a fraca participação da diáspora aos constrangimentos
relacionados com a nacionalidade, e solicitou a criação de uma comissão
específica para atender às necessidades e reivindicações da comunidade
emigrada, com enfoque particular na situação do Senegal. Defendeu, por fim, que
a implementação do recenseamento automático deve ser acompanhada por uma
estratégia institucional mais ampla, de valorização da cidadania emigrante e de
efetiva integração da diáspora no espaço político nacional.