II SESSÃO ORDINÁRIA DE ABRIL
A
deputada do PAICV eleita pelo círculo da África, Gisele Lopes, alertou as
autoridades competentes e a sociedade civil em geral para os tratamentos
dirigidos aos cidadãos africanos que chegam a Cabo Verde. Segundo afirmou, ao
longo dos anos, e de forma cada vez mais recorrente, “cidadãos africanos estão
a ser expulsos dos aeroportos da Praia e do Sal, em condições humilhantes, sem
justificação clara, sem assistência e sem respeito pelos direitos humanos”.
Acrescentou, ainda, que tais “deportações acontecem na escuridão e no silêncio e
têm tido consequências realmente graves”.
A
deputada deu como exemplo o caso da cidadã nigeriana Abembola e dos seus quatro
colegas, deportados após terem entrado no país como turistas, sublinhando que a
situação é “arrepiante”. “Ela foi algemada, agredida, óculos quebrados, sem
alimentação e sem assistência jurídica”, afirmou. Embora tenha reconhecido que
o sucedido teve como justificação oficial motivos de ordem administrativa,
considerou, no entanto, que, na prática, tudo terá ocorrido “por causa da cor
de pele e das indicações que foram consideradas razões suficientes.” E
acrescentou: “Enquanto os jovens africanos são tratados como suspeitos,
passageiros europeus passam na fronteira sem nenhum obstáculo.”
A
este respeito, a deputada assinalou que mais grave ainda é o facto de persistir
um tratamento “pouco humano”, enquanto Cabo Verde continua a arrecadar, nas
suas contas, as taxas comunitárias da CEDEAO e ocupa cargos de prestígio no
seio dessa organização. “Sim, uma contradição flagrante que alimenta uma
insatisfação que se acresce cada vez mais. Não sendo necessário reclamar do
racismo que tem lugar em Cabo Verde e muito menos quando é institucionalizado”,
declarou.
Gisele
Lopes reforçou que há “abusos de poder” por parte de alguns agentes da Polícia
de Fronteiras, mas que tais situações não têm merecido respostas concretas.
Referiu ainda que, até 6 de abril de 2025, a taxa de recusa de entrada de
cidadãos nigerianos teria atingido os 11%, contrastando com os dados oficiais
divulgados, que apontam para apenas 0,04%. Concluiu a sua intervenção exigindo
“medidas fortes” e a criação de um mecanismo independente para monitorizar as
expulsões, integrando representantes dos direitos humanos, juristas, membros de
comunidades imigrantes, diplomatas dos países envolvidos e representantes da
sociedade civil, com o intuito de “descobrir as responsabilidades, fazer justiça
e devolver a dignidade na Polícia de Fronteira”.
Por
seu turno, João Baptista Pereira declarou que o PAICV “condena de forma clara
todos os tratamentos discriminatórios na fronteira de Cabo Verde, por parte de
qualquer cidadão que vive no país”. Apelou, de igual modo, para que os cidadãos
cabo-verdianos espalhados pelos diversos continentes sejam também tratados com
“justiça e legalidade”.
Já
o deputado do MpD, Ailton Rodrigues, considerou ser “errado” transmitir a ideia
de que Cabo Verde “é um país de fronteiras abertas à Europa e de costas
voltadas para a África”. Nesse contexto, questionou a deputada do PAICV sobre
as razões pelas quais não terá reivindicado em defesa dos 56 cidadãos europeus
a quem foi recusada a entrada no país. Interrogou-se, ainda, sobre a data em
que as fronteiras passaram a funcionar, qual o conceito de país e de
instituições racistas e de deportação, sustentando que existiram alguns
“equívocos” na declaração política do PAICV.
Por
sua parte, o deputado da UCID, João Santos Luís, afirmou que o tema em
discussão é “sensível” e exige responsabilidade, frisando que a matéria se
encontra já na alçada das autoridades de investigação competentes. Finalmente,
Celso Ribeiro, deputado do MpD, sustentou que, no caso em apreço, “não se deve
valorizar a opinião das pessoas”, mas antes realizar um inquérito que permita
apurar os factos, evitando que situações pontuais sejam instrumentalizadas para
“colocar a imagem e a credibilidade do país em causa”.