A
deputada Dora Pires, representante do partido proponente do debate sobre as
Questões de Política Interna e Externa, encerrou a sessão parlamentar
questionando a ausência de respostas concretas por parte do Governo face às
preocupações fundamentais da população, e, em particular, do sector privado.
Dora
Pires denunciou aquilo a que chamou o “estrangulamento” da Zona Económica
Especial Marítima (ZEM), projeto concebido com a promessa de impulsionar o
desenvolvimento económico da região norte do país, nomeadamente através da
construção de um porto de cargas, de um terminal de contentores e de
infraestruturas associadas à economia do mar.
A
deputada manifestou-se insatisfeita com a resposta do Governo durante o debate,
assinalando a ausência de clareza em matérias relativas ao Código Aduaneiro,
aos elevados custos dos transportes e à situação dos operadores económicos. “O
Governo age pouco”, afirmou, acrescentando que os cabo-verdianos exigem mais
ação, emprego e um desenvolvimento inclusivo.
Dora
Pires alertou, igualmente, para diversos constrangimentos que afetam o ambiente
de negócios no país, designadamente uma regulação económica “importada e
desajustada”, a morosidade nos trâmites administrativos, a burocracia
transversal na administração pública, o elevado custo da eletricidade, a
ineficiência na fiscalização das atividades económicas e a escassez de
incentivos dirigidos aos pequenos investidores.
A
parlamentar defendeu a implementação de reformas estruturais que melhorem
substancialmente o ambiente de negócios, com destaque para projetos de
modernização e inovação, a promoção de uma abordagem colaborativa que envolva
todos os sectores da economia, desde os departamentos da administração pública
central e local, às câmaras municipais, câmaras de comércio, instituições
financeiras e operadores económicos.
Na
mesma linha de pensamento, Dora Pires apontou a urgência de reformar o sistema
financeiro, com foco no apoio ao crédito produtivo, sobretudo para as pequenas
e médias empresas. Defendeu, ainda, a necessidade de digitalizar de forma
eficiente a administração pública, investir no conhecimento técnico e prático
através de formações profissionais, descentralizar a economia e criar
oportunidades ajustadas às especificidades de cada ilha do arquipélago.
Criticou
igualmente o atual sistema tributário, considerando que muitas das taxas em
vigor são “insuportáveis” e contribuem para o aumento do custo dos bens
essenciais, penalizando os consumidores e reforçando a imagem de Cabo Verde
como um “Estado fiscal”.
A deputada concluiu a sua intervenção com um apelo à construção de um país mais ético, inovador e comprometido com o bem comum. “Cinquenta anos após a independência, é tempo suficiente de estarmos desenvolvidos e largar as amarras pessoais e partidárias, a bem comum de Cabo Verde”, declarou.