Na sua intervenção durante o
período reservado às declarações políticas, a Deputada Carla Lima, em
representação do Grupo Parlamentar do PAICV, levantou sérias reservas quanto à
veracidade e coerência dos dados oficiais relativos à criminalidade em Cabo
Verde, denunciando uma aparente discrepância entre os números reportados pelas
autoridades policiais e os divulgados pelo Ministério Público.
Segundo a deputada, embora o
Governo procure apresentar um quadro positivo da situação da segurança pública,
a realidade quotidiana dos cidadãos cabo-verdianos contraria os indicadores
apresentados. “Precisamos de questionar seriamente estes dados”, advertiu,
apontando para uma “contradição preocupante” entre os 20.000 registos de
ocorrências comunicados pela Polícia Nacional em 2024 e os 90.031
processos-crime movimentados pelo Ministério Público no seu relatório anual –
número que representa um aumento de 4,3% face ao ano anterior.
A deputada evidenciou um
crescimento expressivo em várias tipologias criminais: os crimes contra a
propriedade aumentaram 12,5%, com particular incidência nos roubos e furtos
qualificados; registaram-se 32.239 novos processos-crime, traduzindo um acréscimo
de 18,5%; os casos de violência baseada no género subiram 6,4%; os processos de
homicídio conheceram um aumento de 11,5%; e os crimes de natureza sexual
subiram 1,4%, contabilizando 644 novos casos, dos quais quase metade
correspondem a abusos sexuais de crianças.
Na leitura da deputada do PAICV,
Carla Lima, a diferença de quase 12 mil processos entre os registos da Polícia
Nacional e os do Ministério Público é indicativa de uma subnotificação
sistémica e de uma crise de confiança da população nas instituições policiais.
A deputada salientou que muitos cidadãos optam por não denunciar os crimes, por
sentirem que as denúncias não têm consequência prática, o que prejudica
gravemente o combate eficaz à criminalidade. “A realidade nas nossas ruas
demonstra que faltam estratégias verdadeiramente eficazes e sustentáveis para a
redução da criminalidade”, concluiu.
Em resposta, o Deputado Abraão
Vicente, do MpD, refutou categoricamente as críticas, sustentando que os dados
são eloquentes e apontam para um recuo generalizado da criminalidade. De acordo
com os números apresentados, em 2024 foram registadas 20.524 ocorrências
criminais, o que corresponde a uma diminuição de 10,1% em relação ao ano
anterior. Segundo o deputado, este decréscimo demonstra a eficácia das forças
de segurança e das políticas de segurança interna em curso.
No detalhamento dos indicadores,
Abraão Vicente destacou reduções significativas: os crimes contra as pessoas
diminuíram 8,2%; as ofensas corporais, 7,5%; a violência baseada no género,
11%; as ameaças, 4%; e os abusos sexuais de menores, 14%. Em relação aos crimes
contra o património, os furtos e os roubos registaram quedas de 13,3% e 12,5%,
respetivamente. Quanto aos homicídios, verificou-se uma redução de 20,5%, o que
corresponde a menos oito casos do que em 2023.
Por seu turno, o Deputado António
Monteiro, da UCID, adotou uma posição crítica e equidistante, afirmando que,
independentemente da leitura estatística, a segurança pública não está bem.
Reforçou que a criminalidade permanece uma realidade presente no quotidiano dos
cidadãos e que é imperioso que o Governo e a sociedade civil assumam esta
problemática com frontalidade e responsabilidade. Sublinhou, por fim, que
“caberá ao Governo a responsabilidade maior de garantir a estabilidade
emocional e a segurança de todos os cabo-verdianos”.